ARTIGO SOBRE BREVE ESTUDO DO MOVIMENTO DO
CONTESTADO:
A historiografia militar e o caso dos
operários da EFSPRG – Márcia Espig
A autora do artigo MARCIA ESPIG destaca o
Movimento do Contestado, e elabora uma discussão historiográfica, visando
esclarecer a partir de dados documentais, que a presença dos ex- operários da
Estrada de Ferro São Paulo - Rio Grande, na luta social a qual envolveu grande contingente de pessoas, não pode ser totalmente
afirmado como destacou o General Setembrino de Carvalho em seus relatos enviados
ao Ministro da Guerra. A vinda de um grupo de pessoas alheia à região do
Contestado tornou-se o dado mais relevante gerando uma linha de explicação para o movimento, como
uma de suas principais causas, estes
relatos são utilizados como fonte na maioria das obras referentes a esse tema.
O
objetivo da autora é o de observar se tais obras referem-se ou não à
existência dentre os rebeldes de ex-operários da EFSPRG, e nesse sentido, busca
saber se os militares que escrevem após Setembrino utilizaram à mesma
informação ou não. Ela destaca que parte das notícias trazidas por Setembrino
não são exatas. Aponta como exemplo, a identificação de Francisco Paes de
Farias ao codinome de Venuto Baiano. Na verdade, trata-se de indivíduos
distintos. Francisco Paes de Farias era Chico Ventura, um dos responsáveis pelo
início dos ajuntamentos e Venuto Baiano era uma das lideranças de guerra,
importante na fase dos combates. Outra informação imprecisa prestada pelo
General atribui a Praxedes Gomes o título de “chefe dos rebeldes”, quando se
sabe que este fazia comércio com o grupo, mas não se envolveu ativamente em sua
organização. Uma ausência sentida no Relatório refere-se à Adeodato Ramos,
famoso líder da fase final do Movimento, e que não mereceu qualquer comentário
por parte do autor.
Entre suas constatações observa que o
objetivo principal do texto não era uma narrativa histórica sobre o evento, mas
um relato da atividade do Exército Nacional. O segundo aspecto importante, o
fato de que os militares eram estranhos à região e a população local e o convívio
entre praças e sertanejos foi proibido pelo General, a fim de diminuir a
prática de espionagem. Além de jornais
da época, citar que o General teria dirigido as operações à distância,
instaladas no Quartel-General em Curitiba, sua expedição durou apenas alguns meses,
tempo insuficiente para um bom conhecimento da cultura local. Ao escrever seu
Relatório ele baseou se em partes de
combate, inquéritos e demais documentos produzidos na frente de batalha por
seus oficiais. As publicações posteriores
contaram com o benefício da historiografia militar deixada por
Setembrino sobre os operários da Estrada
de Ferro, onde a visão sobre os participantes do Movimento em geral, é um olhar
etnocêntrico e preconceituoso, com características de inferioridade nas
populações sertanejas. Os participantes do Movimento do Contestado foram
avaliados e sentenciados através de categorias estranhas à sua cultura, figuras
urbanas e alheias à cultura cabocla, intelectuais que ao descreverem utilizaram
denominações pejorativas para esses agentes, tais como “bandidos”,
“bandoleiros”, “ignorantes”, entre muitos outros.
Para contrapor se a idéia que os líderes
mais perigosos do movimento seriam de fora da região, a autora procura mostrar uma tendência de análise por parte
dos militares, onde o dilema era como
justificar que um grupo de sertanejos
“ignorantes” tenha conseguido se organizar a ponto de resistir a vários ataques das forças legais, dominando
uma grande parcela do território
Contestado. Para os oficiais que nos legaram seus escritos, a população local era incapaz de resistir ao
Exército Nacional.
Os sertanejos eram vistos como um grupo
intelectualmente incapaz de se autodirigir na situação de conflito; para
cumprir tal tarefa, deveriam ser
bandidos dos Estados e regiões vizinhas, alguns inclusive antigos
participantes da Revolução Federalista, tornando as derrotas iniciais do
Exército frente aos rebeldes algo aceitável.
Ela questiona
a representação segundo a qual os trabalhadores teriam assumido um papel de
liderança no movimento, visto que teriam aderido apenas a partir de 1914, e afirma
dentre os trabalhadores estariam “estrangeiros e nacionais” e não apenas
bandidos provenientes dos grandes
centros brasileiros, como destacam o General.
Os oficiais não confirmam ou desmentem
diretamente a versão apresentada por Setembrino de Carvalho. É possível que a
questão da hierarquia tenha influenciado nesse aspecto da narrativa, ao não se
referir as pessoas de fora da região no momento em que descrevem os
prisioneiros capturados.
Para Márcia Espig, tais obras nos sugerem e
direcionam para um questionamento das informações prestadas pelo General, com
necessidade de uma investigação mais ampla, com analise de documentação de época.
Autoria: Eliane Damaso da Silveira
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