segunda-feira, 18 de junho de 2012

ARTIGO SOBRE O MOVIMENTO DO CONTESTADO





                         
      ARTIGO SOBRE BREVE ESTUDO DO MOVIMENTO DO CONTESTADO:
   A historiografia militar e o caso dos operários da EFSPRG – Márcia Espig

     A autora do artigo MARCIA ESPIG destaca o Movimento do Contestado, e elabora uma discussão historiográfica, visando esclarecer a partir de dados documentais, que a presença dos ex- operários da Estrada de Ferro São Paulo - Rio Grande, na luta social a qual envolveu  grande contingente de pessoas, não pode ser totalmente afirmado como destacou o General Setembrino de Carvalho em seus relatos enviados ao Ministro da Guerra. A vinda de um grupo de pessoas alheia à região do Contestado tornou-se o dado mais relevante gerando  uma linha de explicação para o movimento, como uma de suas principais causas,  estes relatos são utilizados como fonte na  maioria das obras referentes a esse tema.
   O  objetivo  da autora é o de  observar se tais obras referem-se ou não à existência dentre os rebeldes de ex-operários da EFSPRG, e nesse sentido, busca saber se os militares que escrevem após Setembrino utilizaram à mesma informação ou não. Ela destaca que parte das notícias trazidas por Setembrino não são exatas. Aponta como exemplo, a identificação de Francisco Paes de Farias ao codinome de Venuto Baiano. Na verdade, trata-se de indivíduos distintos. Francisco Paes de Farias era Chico Ventura, um dos responsáveis pelo início dos ajuntamentos e Venuto Baiano era uma das lideranças de guerra, importante na fase dos combates. Outra informação imprecisa prestada pelo General atribui a Praxedes Gomes o título de “chefe dos rebeldes”, quando se sabe que este fazia comércio com o grupo, mas não se envolveu ativamente em sua organização. Uma ausência sentida no Relatório refere-se à Adeodato Ramos, famoso líder da fase final do Movimento, e que não mereceu qualquer comentário por parte do autor.
    Entre suas constatações observa que o objetivo principal do texto não era uma narrativa histórica sobre o evento, mas um relato da atividade do Exército Nacional. O segundo aspecto importante, o fato de que os militares eram estranhos à região e a população local e o convívio entre praças e sertanejos foi proibido pelo General, a fim de diminuir a prática de espionagem. Além   de jornais da época, citar que o General teria dirigido as operações à distância, instaladas no Quartel-General em Curitiba, sua expedição durou apenas alguns meses, tempo insuficiente para um bom conhecimento da cultura local. Ao escrever seu Relatório ele baseou se  em partes de combate, inquéritos e demais documentos produzidos na frente de batalha por seus oficiais. As publicações posteriores  contaram com o benefício da historiografia militar deixada por Setembrino  sobre os operários da Estrada de Ferro, onde a visão sobre os participantes do Movimento em geral, é um olhar etnocêntrico e preconceituoso, com características de inferioridade nas populações sertanejas. Os participantes do Movimento do Contestado foram avaliados e sentenciados através de categorias estranhas à sua cultura, figuras urbanas e alheias à cultura cabocla, intelectuais que ao descreverem utilizaram denominações pejorativas para esses agentes, tais como “bandidos”, “bandoleiros”, “ignorantes”, entre muitos outros.
   Para contrapor se a idéia que os líderes mais perigosos do movimento seriam de fora da região, a autora procura  mostrar uma tendência de análise por parte dos militares, onde o dilema era  como justificar  que um grupo de sertanejos “ignorantes” tenha conseguido se organizar a ponto de resistir a  vários ataques das forças legais, dominando uma grande parcela do  território Contestado. Para os oficiais que nos legaram seus escritos,  a população local era incapaz de resistir ao Exército Nacional.
   Os sertanejos eram vistos como um grupo intelectualmente incapaz de se autodirigir na situação de conflito; para cumprir tal tarefa, deveriam ser  bandidos dos Estados e regiões vizinhas, alguns inclusive antigos participantes da Revolução Federalista, tornando as derrotas iniciais do Exército frente aos rebeldes algo aceitável.
Ela questiona a representação segundo a qual os trabalhadores teriam assumido um papel de liderança no movimento, visto que teriam aderido apenas a partir de 1914, e afirma dentre os trabalhadores estariam “estrangeiros e nacionais” e não apenas bandidos  provenientes dos grandes centros brasileiros, como destacam o General.
    Os oficiais não confirmam ou desmentem diretamente a versão apresentada por Setembrino de Carvalho. É possível que a questão da hierarquia tenha influenciado nesse aspecto da narrativa, ao não se referir as pessoas de fora da região no momento em que descrevem os prisioneiros capturados.
    Para Márcia Espig, tais obras nos sugerem e direcionam para um questionamento das informações prestadas pelo General, com necessidade de uma investigação mais ampla, com analise de  documentação de época.

Autoria: Eliane Damaso da Silveira

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